18.4.10



Por mais que tenhamos crescido, não crescemos o suficiente. Nossas virtudes amadurecem; nossos medos não mudam de idade.
Viver é um constrangimento: é vulnerabilidade. Amar é esperar a opinião distinta da nossa e suportá-la.
Eu secretamente tinha certeza de que era feio. Muito feio. Nunca respondi o que temia.
Ainda hoje quando me comparam a um extraterrestre, toda a minha oratória vai para o espaço. Fraquejo, peço ajuda, peço uma mão para atravessar a rua do desaforo. É assim mesmo, não ficarei bonito, decidi me estranhar tanto que ninguém mais seja capaz de identificar o que é mais insólito em mim. É tanta coisa irreverente que o observador demorará boas horas para me classificar.
Raspei minha cabeça, pinto as unhas da mão esquerda, uso roupas que são próprias para baladas, com lantejoulas e brilhantes, em plena luz do dia, saio com óculos enormes de gafanhoto e morcego. Não temo o escândalo de minha alegria.
Ao invés de esperar o pior, me critico. Não tento ser normal, exagerei as minhas diferenças.
Ainda não consigo me defender, em compensação minhas dores me ensinaram a defender os outros. A não permitir que a omissão e a indiferença prosperem em pensamento. Revezar sensibilidade e humor, nunca espumar de raiva e revidar a agressão. As palavras servem para desarmar. Briga é o fracasso das palavras – não interessa ao escritor.
Eu compreendo para me situar. Explico a ferida para cicatrizá-la. Antecipo-me às fraquezas das pessoas e elogio no momento certo e não em qualquer momento.

- Fabrício Carpinejar in “Confissão”

Um comentário:

  1. Gostei do teu Blog/Site e apartir de agora vou passar a ser seu seguidor, e ainda vou te acompanhar! \o/ (Não me leva pro mal caminho ein.) Então sabendo disso, me faça querer voltar ein!, rs.

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